segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UMA HISTÓRIA, VÁRIAS VERSÕES

A História de Angola precisa de ser reconstituída ou recontada. Pelo menos esta preocupação ficou patente nas últimas iniciativas do executivo angolano que através do Ministério da Cultura realizou várias sessões para falar da História de Angola, no quadro das comemorações dos 35 anos da independência nacional, a serem assinalados no dia 11 de Novembro.

A iniciativa que não é de agora, tem sido saudada por vários sectores da sociedade, entre políticos, antropólogos, religiosos e outros que acreditam ser o momento de refazer a história de Angola.

E porque refazer a história? A pergunta suscitaria respostas como a de que os factos passados são passados, por isso ninguém os reconstituiria, ou então que existe uma versão da história, mas por estar mal contada é preciso mesmo refazê-la, e mais outras tantas respostas.

Rebuscando o que está na origem da preocupação de se refazer a história de Angola, comecemos por sublinhar uma das reuniões de cúpula do partido no poder, há quase 6 anos, em que foi criada uma comissão para refazer a história do MPLA e de Angola, comissão esta cujos resultados dos trabalhos continuam no maior dos segredos, sem mesmo nenhum ponto de situação dos passos já dados. Entretanto, num curto espaço após a criação da referida comissão, foi dado a conhecer a opinião pública nacional e internacional, uma outra empreitada para a descoberta da história real da palanca negra gigante, cujo habitat exclusivo é dado como área de Kangandala em Malange, embora outros dados apontam para a existência da espécie no Kuando Kubango.

De factos políticos, passando aos culturais e religiosos, a história de Angola tem sido ainda um verdadeiro enigma, mesmo para historiadores, alguns sem grandes possibilidades de desenvolverem pesquisas independentes e abrangentes, se considerarmos várias razões quer de falta de meios financeiros, quer de apoio institucional.

No campo político a própria história do MPLA tem sido questionada por muitos angolanos e não só, sobre o paradeiro do manifesto que esteve na base da criação do maioritário, quando uns defendem ter havido escritos deixados por Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade, enquanto outros dizem não ter havido nada de pensamento filosófico que norteou a criação do Movimento Popular de Libertação de Angola.

Na sequência das discórdias entre as várias versões, os angolanos têm sido brindados com a versão do partido governante sobre a independência nacional proclamada a 11 de Novembro pelo MPLA, e que não revela as causas do conflito pós-independência, enquanto nos círculos oposicionistas é visível a indignação pelo facto de os acordos de Alvor que deram lugar ao 11 de Novembro terem reconhecido 3 movimentos de libertação, FNLA, MPLA e UNITA.

De igual sorte os sobreviventes do processo 50, ex-presos de Tarrafal e outros das cadeias da PIDE, têm versões diferentes e são tratados de maneira diferente no acesso às oportunidades de fazerem ouvir seus testemunhos sobre a História de Angola.

O mesmo deu-se recentemente com as comemorações dos 22 anos da batalha do Kuito Kuanavale, onde o executivo foi buscar especialistas, antigos beligerantes e apoiantes das partes então em conflito para narrar o desfecho daquela que é considerada uma batalha que alterou a correlação de forças ao nível da sub-região austral de África. Na sua última reunião de cúpula a UNITA também deu a conhecer que seriam recolhidos vários testemunhos para refazer a história desta batalha.

As recentes declarações de Rui Falcão acusando os dirigentes da UNITA de nada terem feito para o país e que o destruíram, suscitaram nalguns maninhos a reconstituição da história de Angola, onde os progenitores de Rui Falcão eram os mentores da Frente Unida de Angola – FUA, uma espécie de ponta de lança de Portugal em Angola, na luta contra os movimentos de libertação de então.

Académicos, políticos e antropólogos têm envidado esforços par lançar livros com testemunhos dos vários momentos que marcaram a História recente de Angola, para gáudio das novas gerações, mas ainda assim o caminho a percorrer é longo para um reconhecimento do contributo de todos os angolanos. Livros como as “memórias de Dino Matross, de Lúcio Lara, de Holden Roberto, Samuel Chiwale e de Alcides Sakala, bem como outros escritos de vários autores sobre a História de Angola devem servir de base para quem se ocupa de recontar a nossa verdadeira história, já que diz a definição do termo, ela é a narração de factos feitos num caudal dum rio, onde a história não fica completa se se tomar apenas parte deste caudal.

O bom senso aconselha despir-se dos partidarismos que têm sido evidenciados no tratamento de questões relevantes do país, para termos uma história isenta.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Musicando

SANY NETO e os caminhos da fama para os novos valores da música angolana

Na sequência do boom no mercado musical angolano, onde a cada fim-de-semana se assiste ao lançamento de um novo trabalho discográfico, quisemos entender dos jovens cantores que emergem, os caminhos porque passam para ter um disco nas bancas.

Numa conversa com o cantor Sany Neto, este explicou-nos que a grande dificuldade não reside apenas em conseguir dinheiro para as despesas da pré-produção, gravação, masterização e edição, mas também «nas voltas para encontrar estúdios com condições aceitáveis e a preços acessíveis para quem não tem apoios e conseguir ter o trabalho feito».

No seu caso particular Sany Neto considerou que em Angola há poucas casas com tais condições, e por isso com preços para outros bolsos. «Aqui ninguém consegue gravar um disco com menos de 50 mil dólares americanos», disse, acrescentando que quando gravou o seu primeiro trabalho pensou faze-lo em Angola, mas teve de ir para a República da África do Sul, onde os preços são relativamente baixos.

Mesmo assim Sany Neto considera que quase todos os músicos fazem do primeiro disco uma fonte para ressarcir os empréstimos feitos durante para o seu lançamento, restando pouco para lançar novos trabalhos. «Mesmo aqueles que hoje já têm nome começaram assim», disse. Lamentou também a falta de apoios, quer do estado quer de empresários, que não apostam nos novos valores. «Enquanto não tiveres nenhum trabalho lançado, quase que ninguém aposta em ti. Depois de estar lançado é que aparecem os patrocinadores», frisou o jovem cantor que para ter o seu disco no mercado teve que contar com apoios da irmã mais velha e da mãe, num projecto que durou quase 5 anos. «Não consegui dinheiro duma só vez. Foi faseado e é assim com quase todos os músicos», comentou.

Sany Neto apontou outras dificuldades que os jovens músicos e cantores enfrentam como a carestia da publicidade, a promoção da música nos órgãos de comunicação social, nomeadamente nas rádios e televisão, salientando que se devia apostar na juventude e contribuir para ocupar os seus tempos livres evitando que se refugiem nas drogas, álcool e criminalidade. Denunciou mesmo haver casos de corrupção nalguns órgãos de comunicação social para passar a música ou promoverem cantores que vêm do anonimato.

Depois do seu primeiro disco “Sons do coração” lançado em Dezembro de 2009, “Tatuagem” é o segundo trabalho que Sany Neto vai lançar em 2011, com uma variedade musical de kizomba, Hip-hop e outros estilos. “Este CD terá 10 faixas musicais e será mais atrevido, mais meu”, fim de citação.
«O sons do coração, foi uma maneira que encontrei de transmitir uma mensagem e desabafar muita coisa», revelou o jovem cantor que diz fazer a música com amor, porque sempre pensou que através dela podia ajudar a sociedade e as pessoas que o rodeiam.
Antes disso, Sany Neto pensa lançar um CD da 4ª da Estrelas, já em Dezembro de 2010.


Disco da 4ª das Estrelas vai ajudar crianças desfavorecidas
Dadas as dificuldades por que passam muitos cantores, Sany Neto que recebeu solicitações de muitos deles para apoiar na materialização do sonho de ter um disco gravado, decidiu empreender o projecto“4ªdas Estrelas”, num restaurante do Bairro Popular, ao lado do largo da Cimex.
O projecto é uma iniciativa onde os novos valores da música angolana cantam em karaoke e com Playback, e o melhor classificado é projectado para a gravação de um CD. A entrada custa 1500 kuanzas para homens e 1000 kuanzas para mulheres, a partir das 19 horas de cada quarta-feira. O espectáculo acontece na presença de jornalistas da rádio e TV angolanas, empresários e outros patrocinadores para sensibilizá-los a ajudar e promover os novos valores da música angolana, segundo contou Sany Neto, que revelou estar a registar em cada semana perto de 50 jovens interessados em promover trabalhos e gravar discos. «É uma forma que encontrei para responder aos pedidos de ajuda de muitos jovens com talento na música e que querem também lançar disco ou ter uma oportunidade de promoção», sublinhou.
O projecto também tem sido visitado por músicos de renome como Ary, Papy Tchulo, Wanderfull One, Army Squad e outros para verem “in loc” o boom dos novos talentos da música angolana. Sany revelou igualmente estar a encontrar receptividade noutras províncias que clamam pela extensão da “4ª das Estrelas”. Do trabalho já realizado neste projecto, Sany Neto afirmou ter-se conseguido juntar músicas para um disco de 16 faixas, e duas mil cópias que segundo previsões deve ser lançado já em Dezembro deste ano para ajudar as crianças do lar do Padre Horácio, no Kapolo, de formas a proporcionar-lhes um natal feliz.
Para o efeito o nosso interlocutor lançou um apelo as pessoas de boa vontade para prestarem a sua solidariedade na materialização do projecto, estimando em 20 mil dólares o montante necessário para que «se realize o sonho das novas estrelas de ter uma música gravada e ajudar crianças do lar do padre Horácio».
Ainda sobre a “4ª das Estrelas” Sany Neto disse que o estado através da Administração comunal do Neves Bendinha, foi contactado para apoiar arranjando um espaço em condições para a realização dos espectáculos, mas até a data não houve resposta. Lamenta tal facto porque considera ser uma iniciativa que pode aliviar o governo na racionalização dos tempos livres da juventude angolana. Sany Neto sente-se satisfeito pelo interesse que muitos jovens manifestam em desenvolver os seus talentos, e apesar das dificuldades acredita que tudo é possível, com trabalho e dedicação. «Hoje mais de 80% de música que se toca nas rádios e na televisão é angolana”, sublinhou. Sany Neto escolheu as quartas-feiras porque ao fim de semana realiza outros shows (5 em média), incluindo viagens para outras províncias de Angola, Lunda Sul, Huambo, Benguela, Kuanza Sul e outras, para onde se tem desdobrado nos últimos tempos.