A História de Angola precisa de ser reconstituída ou recontada. Pelo menos esta preocupação ficou patente nas últimas iniciativas do executivo angolano que através do Ministério da Cultura realizou várias sessões para falar da História de Angola, no quadro das comemorações dos 35 anos da independência nacional, a serem assinalados no dia 11 de Novembro.
A iniciativa que não é de agora, tem sido saudada por vários sectores da sociedade, entre políticos, antropólogos, religiosos e outros que acreditam ser o momento de refazer a história de Angola.
E porque refazer a história? A pergunta suscitaria respostas como a de que os factos passados são passados, por isso ninguém os reconstituiria, ou então que existe uma versão da história, mas por estar mal contada é preciso mesmo refazê-la, e mais outras tantas respostas.
Rebuscando o que está na origem da preocupação de se refazer a história de Angola, comecemos por sublinhar uma das reuniões de cúpula do partido no poder, há quase 6 anos, em que foi criada uma comissão para refazer a história do MPLA e de Angola, comissão esta cujos resultados dos trabalhos continuam no maior dos segredos, sem mesmo nenhum ponto de situação dos passos já dados. Entretanto, num curto espaço após a criação da referida comissão, foi dado a conhecer a opinião pública nacional e internacional, uma outra empreitada para a descoberta da história real da palanca negra gigante, cujo habitat exclusivo é dado como área de Kangandala em Malange, embora outros dados apontam para a existência da espécie no Kuando Kubango.
De factos políticos, passando aos culturais e religiosos, a história de Angola tem sido ainda um verdadeiro enigma, mesmo para historiadores, alguns sem grandes possibilidades de desenvolverem pesquisas independentes e abrangentes, se considerarmos várias razões quer de falta de meios financeiros, quer de apoio institucional.
No campo político a própria história do MPLA tem sido questionada por muitos angolanos e não só, sobre o paradeiro do manifesto que esteve na base da criação do maioritário, quando uns defendem ter havido escritos deixados por Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade, enquanto outros dizem não ter havido nada de pensamento filosófico que norteou a criação do Movimento Popular de Libertação de Angola.
Na sequência das discórdias entre as várias versões, os angolanos têm sido brindados com a versão do partido governante sobre a independência nacional proclamada a 11 de Novembro pelo MPLA, e que não revela as causas do conflito pós-independência, enquanto nos círculos oposicionistas é visível a indignação pelo facto de os acordos de Alvor que deram lugar ao 11 de Novembro terem reconhecido 3 movimentos de libertação, FNLA, MPLA e UNITA.
De igual sorte os sobreviventes do processo 50, ex-presos de Tarrafal e outros das cadeias da PIDE, têm versões diferentes e são tratados de maneira diferente no acesso às oportunidades de fazerem ouvir seus testemunhos sobre a História de Angola.
O mesmo deu-se recentemente com as comemorações dos 22 anos da batalha do Kuito Kuanavale, onde o executivo foi buscar especialistas, antigos beligerantes e apoiantes das partes então em conflito para narrar o desfecho daquela que é considerada uma batalha que alterou a correlação de forças ao nível da sub-região austral de África. Na sua última reunião de cúpula a UNITA também deu a conhecer que seriam recolhidos vários testemunhos para refazer a história desta batalha.
As recentes declarações de Rui Falcão acusando os dirigentes da UNITA de nada terem feito para o país e que o destruíram, suscitaram nalguns maninhos a reconstituição da história de Angola, onde os progenitores de Rui Falcão eram os mentores da Frente Unida de Angola – FUA, uma espécie de ponta de lança de Portugal em Angola, na luta contra os movimentos de libertação de então.
Académicos, políticos e antropólogos têm envidado esforços par lançar livros com testemunhos dos vários momentos que marcaram a História recente de Angola, para gáudio das novas gerações, mas ainda assim o caminho a percorrer é longo para um reconhecimento do contributo de todos os angolanos. Livros como as “memórias de Dino Matross, de Lúcio Lara, de Holden Roberto, Samuel Chiwale e de Alcides Sakala, bem como outros escritos de vários autores sobre a História de Angola devem servir de base para quem se ocupa de recontar a nossa verdadeira história, já que diz a definição do termo, ela é a narração de factos feitos num caudal dum rio, onde a história não fica completa se se tomar apenas parte deste caudal.
O bom senso aconselha despir-se dos partidarismos que têm sido evidenciados no tratamento de questões relevantes do país, para termos uma história isenta.