segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UMA HISTÓRIA, VÁRIAS VERSÕES

A História de Angola precisa de ser reconstituída ou recontada. Pelo menos esta preocupação ficou patente nas últimas iniciativas do executivo angolano que através do Ministério da Cultura realizou várias sessões para falar da História de Angola, no quadro das comemorações dos 35 anos da independência nacional, a serem assinalados no dia 11 de Novembro.

A iniciativa que não é de agora, tem sido saudada por vários sectores da sociedade, entre políticos, antropólogos, religiosos e outros que acreditam ser o momento de refazer a história de Angola.

E porque refazer a história? A pergunta suscitaria respostas como a de que os factos passados são passados, por isso ninguém os reconstituiria, ou então que existe uma versão da história, mas por estar mal contada é preciso mesmo refazê-la, e mais outras tantas respostas.

Rebuscando o que está na origem da preocupação de se refazer a história de Angola, comecemos por sublinhar uma das reuniões de cúpula do partido no poder, há quase 6 anos, em que foi criada uma comissão para refazer a história do MPLA e de Angola, comissão esta cujos resultados dos trabalhos continuam no maior dos segredos, sem mesmo nenhum ponto de situação dos passos já dados. Entretanto, num curto espaço após a criação da referida comissão, foi dado a conhecer a opinião pública nacional e internacional, uma outra empreitada para a descoberta da história real da palanca negra gigante, cujo habitat exclusivo é dado como área de Kangandala em Malange, embora outros dados apontam para a existência da espécie no Kuando Kubango.

De factos políticos, passando aos culturais e religiosos, a história de Angola tem sido ainda um verdadeiro enigma, mesmo para historiadores, alguns sem grandes possibilidades de desenvolverem pesquisas independentes e abrangentes, se considerarmos várias razões quer de falta de meios financeiros, quer de apoio institucional.

No campo político a própria história do MPLA tem sido questionada por muitos angolanos e não só, sobre o paradeiro do manifesto que esteve na base da criação do maioritário, quando uns defendem ter havido escritos deixados por Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade, enquanto outros dizem não ter havido nada de pensamento filosófico que norteou a criação do Movimento Popular de Libertação de Angola.

Na sequência das discórdias entre as várias versões, os angolanos têm sido brindados com a versão do partido governante sobre a independência nacional proclamada a 11 de Novembro pelo MPLA, e que não revela as causas do conflito pós-independência, enquanto nos círculos oposicionistas é visível a indignação pelo facto de os acordos de Alvor que deram lugar ao 11 de Novembro terem reconhecido 3 movimentos de libertação, FNLA, MPLA e UNITA.

De igual sorte os sobreviventes do processo 50, ex-presos de Tarrafal e outros das cadeias da PIDE, têm versões diferentes e são tratados de maneira diferente no acesso às oportunidades de fazerem ouvir seus testemunhos sobre a História de Angola.

O mesmo deu-se recentemente com as comemorações dos 22 anos da batalha do Kuito Kuanavale, onde o executivo foi buscar especialistas, antigos beligerantes e apoiantes das partes então em conflito para narrar o desfecho daquela que é considerada uma batalha que alterou a correlação de forças ao nível da sub-região austral de África. Na sua última reunião de cúpula a UNITA também deu a conhecer que seriam recolhidos vários testemunhos para refazer a história desta batalha.

As recentes declarações de Rui Falcão acusando os dirigentes da UNITA de nada terem feito para o país e que o destruíram, suscitaram nalguns maninhos a reconstituição da história de Angola, onde os progenitores de Rui Falcão eram os mentores da Frente Unida de Angola – FUA, uma espécie de ponta de lança de Portugal em Angola, na luta contra os movimentos de libertação de então.

Académicos, políticos e antropólogos têm envidado esforços par lançar livros com testemunhos dos vários momentos que marcaram a História recente de Angola, para gáudio das novas gerações, mas ainda assim o caminho a percorrer é longo para um reconhecimento do contributo de todos os angolanos. Livros como as “memórias de Dino Matross, de Lúcio Lara, de Holden Roberto, Samuel Chiwale e de Alcides Sakala, bem como outros escritos de vários autores sobre a História de Angola devem servir de base para quem se ocupa de recontar a nossa verdadeira história, já que diz a definição do termo, ela é a narração de factos feitos num caudal dum rio, onde a história não fica completa se se tomar apenas parte deste caudal.

O bom senso aconselha despir-se dos partidarismos que têm sido evidenciados no tratamento de questões relevantes do país, para termos uma história isenta.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Musicando

SANY NETO e os caminhos da fama para os novos valores da música angolana

Na sequência do boom no mercado musical angolano, onde a cada fim-de-semana se assiste ao lançamento de um novo trabalho discográfico, quisemos entender dos jovens cantores que emergem, os caminhos porque passam para ter um disco nas bancas.

Numa conversa com o cantor Sany Neto, este explicou-nos que a grande dificuldade não reside apenas em conseguir dinheiro para as despesas da pré-produção, gravação, masterização e edição, mas também «nas voltas para encontrar estúdios com condições aceitáveis e a preços acessíveis para quem não tem apoios e conseguir ter o trabalho feito».

No seu caso particular Sany Neto considerou que em Angola há poucas casas com tais condições, e por isso com preços para outros bolsos. «Aqui ninguém consegue gravar um disco com menos de 50 mil dólares americanos», disse, acrescentando que quando gravou o seu primeiro trabalho pensou faze-lo em Angola, mas teve de ir para a República da África do Sul, onde os preços são relativamente baixos.

Mesmo assim Sany Neto considera que quase todos os músicos fazem do primeiro disco uma fonte para ressarcir os empréstimos feitos durante para o seu lançamento, restando pouco para lançar novos trabalhos. «Mesmo aqueles que hoje já têm nome começaram assim», disse. Lamentou também a falta de apoios, quer do estado quer de empresários, que não apostam nos novos valores. «Enquanto não tiveres nenhum trabalho lançado, quase que ninguém aposta em ti. Depois de estar lançado é que aparecem os patrocinadores», frisou o jovem cantor que para ter o seu disco no mercado teve que contar com apoios da irmã mais velha e da mãe, num projecto que durou quase 5 anos. «Não consegui dinheiro duma só vez. Foi faseado e é assim com quase todos os músicos», comentou.

Sany Neto apontou outras dificuldades que os jovens músicos e cantores enfrentam como a carestia da publicidade, a promoção da música nos órgãos de comunicação social, nomeadamente nas rádios e televisão, salientando que se devia apostar na juventude e contribuir para ocupar os seus tempos livres evitando que se refugiem nas drogas, álcool e criminalidade. Denunciou mesmo haver casos de corrupção nalguns órgãos de comunicação social para passar a música ou promoverem cantores que vêm do anonimato.

Depois do seu primeiro disco “Sons do coração” lançado em Dezembro de 2009, “Tatuagem” é o segundo trabalho que Sany Neto vai lançar em 2011, com uma variedade musical de kizomba, Hip-hop e outros estilos. “Este CD terá 10 faixas musicais e será mais atrevido, mais meu”, fim de citação.
«O sons do coração, foi uma maneira que encontrei de transmitir uma mensagem e desabafar muita coisa», revelou o jovem cantor que diz fazer a música com amor, porque sempre pensou que através dela podia ajudar a sociedade e as pessoas que o rodeiam.
Antes disso, Sany Neto pensa lançar um CD da 4ª da Estrelas, já em Dezembro de 2010.


Disco da 4ª das Estrelas vai ajudar crianças desfavorecidas
Dadas as dificuldades por que passam muitos cantores, Sany Neto que recebeu solicitações de muitos deles para apoiar na materialização do sonho de ter um disco gravado, decidiu empreender o projecto“4ªdas Estrelas”, num restaurante do Bairro Popular, ao lado do largo da Cimex.
O projecto é uma iniciativa onde os novos valores da música angolana cantam em karaoke e com Playback, e o melhor classificado é projectado para a gravação de um CD. A entrada custa 1500 kuanzas para homens e 1000 kuanzas para mulheres, a partir das 19 horas de cada quarta-feira. O espectáculo acontece na presença de jornalistas da rádio e TV angolanas, empresários e outros patrocinadores para sensibilizá-los a ajudar e promover os novos valores da música angolana, segundo contou Sany Neto, que revelou estar a registar em cada semana perto de 50 jovens interessados em promover trabalhos e gravar discos. «É uma forma que encontrei para responder aos pedidos de ajuda de muitos jovens com talento na música e que querem também lançar disco ou ter uma oportunidade de promoção», sublinhou.
O projecto também tem sido visitado por músicos de renome como Ary, Papy Tchulo, Wanderfull One, Army Squad e outros para verem “in loc” o boom dos novos talentos da música angolana. Sany revelou igualmente estar a encontrar receptividade noutras províncias que clamam pela extensão da “4ª das Estrelas”. Do trabalho já realizado neste projecto, Sany Neto afirmou ter-se conseguido juntar músicas para um disco de 16 faixas, e duas mil cópias que segundo previsões deve ser lançado já em Dezembro deste ano para ajudar as crianças do lar do Padre Horácio, no Kapolo, de formas a proporcionar-lhes um natal feliz.
Para o efeito o nosso interlocutor lançou um apelo as pessoas de boa vontade para prestarem a sua solidariedade na materialização do projecto, estimando em 20 mil dólares o montante necessário para que «se realize o sonho das novas estrelas de ter uma música gravada e ajudar crianças do lar do padre Horácio».
Ainda sobre a “4ª das Estrelas” Sany Neto disse que o estado através da Administração comunal do Neves Bendinha, foi contactado para apoiar arranjando um espaço em condições para a realização dos espectáculos, mas até a data não houve resposta. Lamenta tal facto porque considera ser uma iniciativa que pode aliviar o governo na racionalização dos tempos livres da juventude angolana. Sany Neto sente-se satisfeito pelo interesse que muitos jovens manifestam em desenvolver os seus talentos, e apesar das dificuldades acredita que tudo é possível, com trabalho e dedicação. «Hoje mais de 80% de música que se toca nas rádios e na televisão é angolana”, sublinhou. Sany Neto escolheu as quartas-feiras porque ao fim de semana realiza outros shows (5 em média), incluindo viagens para outras províncias de Angola, Lunda Sul, Huambo, Benguela, Kuanza Sul e outras, para onde se tem desdobrado nos últimos tempos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Os caminhos da reconciliação nacional

Volvidos 8 anos desde que foram assinados os acordos de paz do Luena, que marcaram o fim do conflito armado em Angola, muita tinta correu e muito esforço se empreendeu para que este bem precioso que se chama paz, fosse mantido e consolidado para o benefício do martirizado povo angolano, de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste.
Os caminhos da reconciliação nacional são mais longos do que muitos pensam e não se singem apenas na palavra, nos textos de comunicados, discursos entrevistas ou pequenas acções de marketing político, hoje bem aprimorado por qualquer gestor do poder neste planeta.
Afinal a reconciliação nacional é muito mais do que isso tudo, ou seja, são acções reais que marcam as vidas das pessoas, respondem às suas preocupações, resolvem os seus problemas mais básicos, tranquilizam os espíritos, enterram ressentimentos e ódios e geram bem-estar, tranquilidade, desenvolvimento humano, prosperidade e felicidade.
Os caminhos da reconciliação nacional em Angola, não foram começados nem atingidos com os acordos do Luena, até porque estes acordos trouxeram desafios enormes para todos os angolanos para a concretização deste desiderato, sem o qual Angola não se vai reencontrar consigo mesma, nem com o destino que os seus filhos legítimos almejam.
A memória traz-nos uma data de acordos assinados desde o período da independência até ao calar das armas aos 4 de Abril de 2002, que nos mostram bem claro, que a reconciliação nacional está para lá de um simples acordo de cessar-fogo.
Basta ver que milhares de angolanos que deram o seu melhor nos exércitos então em conflito, continuam sem eira nem beira, levando na maior parte dos casos uma vida de animais selvagens e noutros enganados com promessas de uma vida digna longe de se atingir, se considerarmos que a esperança média de vida em Angola é de 45 anos. Os que foram cedo para a luta, queimam agora os últimos cartuchos, enquanto os que ainda têm alguma vitalidade correm todos os dias para ver se alguma migalha do palácio serve o seu estômago, a propina dos filhos e etc, etc.

Nesta altura em que são celebrados 8 anos desta paz jovem, muitas perguntas se levantam em volta dos seus reais benefícios, do cumprimento das tarefas e o alcance da reconciliação nacional, das responsabilidades dos actores políticos e sociais, do papel do estado e concomitantemente do futuro de Angola.
É este futuro que nos interessa, porque dizia Isaías Samakuva nas suas 10 teses para a Democracia que quem só fala do passado não tem programa para o futuro e porque do passado culpados fomos todos, vítimas fomos todos e responsáveis fomos todos. Citamos
Para o futuro de Angola, é importante referir que o mesmo só será risonho, se a reconciliação nacional for real, as responsabilidades de cada actor político e social forem cumpridas com rigor e o povo deixar de ter a vida que leva hoje, onde as suas reivindicações, petições e direitos são negados, alegadamente por causa do passado de guerra, enquanto a elite no poder e seus próximos andam nos melhores carros, escolas, hospitais, hotéis, praias, condomínios, shoppings, restaurantes, festivais, campeonatos, feiras e outros eventos como se estivessem noutra galáxia onde a guerra nunca terá passado.
Mais do que qualquer intenção, discurso ou palavra, a reconciliação nacional deve ser um conjunto de realizações sérias e não de show off, que tenham impacto real e positivo na vida de todos os angolanos e amigos de Angola, sem discriminação de sexo, raça, idade, religião, filiação partidária ou outra.
A reconciliação nacional deve passar por políticas que primem pela valorização do homem, o construtor do futuro de Angola, sem comprar a sua consciência, a sua moral ou explorar a sua condição material e social. Deve passar pela justiça social, pela educação e saúde de qualidade para todo o cidadão, pelo emprego bem remunerado, pela liberdade de expressão, associação e manifestação, por uma imprensa livre, isenta e não manipulada, pelo respeito pelos direitos humanos, habitação para os que não têm, pensões para os ex-militares e outras camadas vulneráveis.
A reconciliação nacional deve acabar com a mendicidade nas ruas e as ajudas humanitárias com fins eleitoralistas, acabar com a corrupção e valorizar os camponeses e a sua produção, incentivar a cultura, os criadores e os promotores dos valores e da nossa identidade africana. Em fim, uma série de tarefas que afinal de contas são da responsabilidade de todos, eu, tu, ele, nós, vós, eles angolanos e amigos de Angola.
A reconciliação nacional não tem um calendário fixo, data de início e fim, tem sim um engajamento sério de todos para materializar as tarefas enumeradas e muitas outras, para nos contos da história, o passado não servir para falar de vencidos e vencedores, mas sim dos erros a evitar e dos caminhos a seguir na construção de uma Angola próspera, onde se possam rever todos os seus filhos.
Que o aniversário da paz desperte as nossas consciências para o que fizemos, o que fazemos e o que temos de fazer para alcançar uma reconciliação nacional genuína e garantirmos um futuro melhor para as gerações novas e vindouras.
Salve Deus a pátria nossa, salve Deus a nossa Angola, nesta dia que coincide com a Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Zungueira, Mulher de luta


Rompe o sol e com ele o sofrimento de lutar por mais um dia de vida. Com ele rompe a incompreensão do fiscal do GPL que pretende pôr cobro à venda ambulante e em locais impróprios.
Com ele rompe também a incompreensão dos filhos e do marido, que esperam da sua venda a refeição do dia, a propina da escola e a renda de casa.
Corre ela atrás dos clientes, correm os fiscais atrás de si; “tá qui água, eh carapau eh…., arreou, arreou”, no seu chamamento peculiar. Assim é o seu dia-a-dia, perdendo produtos, mercadorias, o parco dinheiro e energia.
Sua companhia diária é a poeira, o sol, o suor, o porrete e o berro, porque faltam-lhe recursos e influência para ter uma bancada no novo mercado do São Paulo, Congolenses, Cacuaco e outros. E porque o “Nosso Super” não é dela, também só o vê pela janela.
Também vê pela janela o famoso Março Mulher, onde nem se quer prova uma colher, ou coisa qualquer do mês em que deve ser elevada.
Mesmo assim parte sempre pronta para a luta, para mais um dia de desafios, fruto das “malambas” da terra, onde a guerra tudo ensinou, tudo levou e nada deixou.
Sua luta faz dela a mulher mais sofrida de África, na “zunga”, as vezes xingada pelos munícipes, que por esta Angola inteira à ela devem a sobrevivência.
Da “zunga” o pão; da “zunga” o chicote ou porrete, o tiro e as lágrimas; Da zunga a música, os poemas e livros.
A mulher “zungueira” está todos os dias a reflectir uma realidade que devemos mudar, porque com ela, Angola pode melhorar e ver seus filhos prosperar.


Por Emanuel Bianco

terça-feira, 9 de março de 2010

Valente mulher




I
Muito querida, mas sempre sofrida
Muito amada, mesmo oprimida
Foste, és e serás sempre valente
Mulher que me faz contente
II
De Eva à virgem Maria
Sem saber o que viria
Valeste pela tua sabedoria
Que nos deu sempre alegria
III
Valente mulher de voz valente
Tua luta pela emancipação é valente
Teu direito reclamado está patente
Em todo o ser humano vivente
IV
Teu mérito de mulher persistente
Está patente na nossa história recente
Da caridade, e coragem valente
Na luta pela liberdade premente
V
No lar, no ensino, na saúde e em fim
Teu amor está sempre presente
No campo ou na cidade sempre valente
Mesmo não podendo dizer sim
VI
És valente pelos inúmeros feitos
De Indira Ghandy, Chamorro e Tatcher
Ginga Mbandi, Nacamela, Deolinda,
E aquela valente e desconhecida mulher
Com exemplos de resistência inesquecíveis
VII
Lutaste e venceste em Angola e no Mundo
Sofreste pela dignidade de quem se fez mudo
Para te negar a honra e a valentia de Mulher
Mãe, amiga, esposa, conselheira e dirigente
Que tudo fez para assim merecer
VIII
Valente Mulher está sempre presente
Na dor, na tristeza ou na alegria
Para devolver aquela harmonia
Dos lares, famílias e tudo envolvente

Luanda, 3 de Março de 2004
Por: Emanuel Bianco

segunda-feira, 1 de março de 2010

Igreja Evangélica refaz a sua história


O Secretário do Sínodo Provincial do Bié da Igreja Evangélica Congregacional em Angola, disse no dia 21 de Fevereiro que a Igreja está a refazer a sua história iniciada com a chegada dos primeiros missionários canadianos e americanos em Angola.

Estas declarações foram proferidas no acto fúnebre do Reverendo Pastor Henrique Ngola Samakuva, cujos restos mortais foram a enterrar na missão Evangélica da Chissamba, onde aquele pastor cumpriu com maior parte da sua carreira ao serviço da igreja até 1976.
Segundo o responsável da Igreja Evangélica no Bié, o reverendo Samakuva foi, é e será uma referência obrigatória da Igreja Evangélica em Angola, cujos feitos contribuíram para o crescimento da congregação e a formação de muitos obreiros da igreja e quadros que hoje servem o país em vários sectores da vida. “Como prova disto é a moldura humana que se deslocou até aqui para acompanhar o nosso pai a sua última morada. Nínguem foi convidado, mas congregou-nos todos aqui. Cumpriu com a sua carreira.” Fim de citação.

Acrescentou ainda, que a igreja está a refazer a sua história, lançando um apelo a todos os seus filhos, para que aqueles que trabalharam nas missões, no fim da sua vida fossem sepultados nos locais onde trabalharam, agradecendo a família do malogrado por ter aceite este apelo para sepultar o Reverendo Pastor Ngola na Missão onde trabalhou.

O acto fúnebre do Reverendo Pastor Henrique Ngola Samakuva foi marcado por um culto ecuménico na Catedral da Paz na cidade do Kuito, que foi pequena para os milhares de crentes, familiares, amigos e colegas presentes, idos de Luanda, Benguela, Huambo, Kuanza Sul, e Kuando Kubango para se despedirem do malogrado pastor, na manha do dia 21 de Fevereiro de 2010, seguindo préstito fúnebre para a missão da Chissamba onde foram sepultados os seus restos mortais.

Destaca-se entre os presentes o Vice-Governador do Bié, deputados a Assembleia Nacional, o enviado do Sinódo Geral da Igreja Evangélica Congregacional em Angola IECA, os colégios de Pastores do Huambo e Bié, bem como representantes outras confissões religiosas.

Henrique Ngola Samakuva faleceu no dia 19 de Fevereiro de 2010 na cidade do Kuito, vítima de doença. Nascido aos 3 de Junho de 1918 em Sahosi, município de Katabola no Bié, foi capelão do Hospital Missionário de Chissamba até 1976. Deixa viúva, 10 filhos, 40 netos e 12 bisnetos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Consensos vs imposições


A movimentação registada em torno do processo constituinte, trouxe a baila conceitos que os experts, os partidos, a sociedade civil e os angolanos em geral criam sobre as doutrinas jurídico-constitucionalistas, o verdadeiro sentido de estado, o estado democrático de direito, a leis das maiorias e a necessidade de se alcançarem consensos.

Para muitos, sentido de estado é entender e colocar os problemas nacionais acima dos interesses de grupo. Para outros, sentido de estado é impor os interesses de grupo em nome das funções ou posições que ocupam no aparelho do estado, reprovando as ideias opostas ou contrárias as suas, como se fossem os únicos detentores do saber e da verdade.
É aqui onde se destacam as discussões em volta das doutrinas jurídico-constitucionais, sobre o estado democrático e de direito, as leis das maiorias e a necessidade de se alcançarem consensos.

No estado democrático e de direito obedece-se a separação de poderes entre o legislativo, executivo e o judiciário, bem como é notória a independência dos tribunais. No estado democrático e de direito a doutrina jurídico-constitucionalista obriga o cumprimento rigoroso dos limites formais e materiais da lei constitucional, salvo em caso de dupla revisão, isto é, rever a constituição e os seus limites.

No estado democrático e de direito as maiorias não violam as leis, porque são maioria por força da lei. Elas não quebram os consensos em detrimento das conquistas alcançadas para que tal lei permitisse atingir esta maioria. Ou então esta maioria será um dia vítima da sua supremacia.

O Estado Democrático, para que realmente o seja, depende de várias condições substanciais, que podem ser favorecidas ou prejudicadas pelos aspectos formais, mas que não se confundem com estes. Para que um Estado seja democrático precisa atender à concepção dos valores fundamentais de certo povo numa época determinada.

Um dos principais estudiosos dos fenómenos políticos contemporâneos e da crise do Estado de direito democrático, o filósofo alemão Jürgen Habermas, ao analisar as tensões existentes entre a validade e a efectiva aplicação das normas legais nas sociedades contemporâneas vê um grande problema no que se refere à legalidade e legitimidade. Nem sempre o legal é legítimo, há leis que não devem ser aceites passivamente pela sociedade; em situações limites é preciso e necessário convocar actos de desobediência civil para reverter o arbítrio imposto pela força da lei. Exemplo real desta contradição, são as leis de excepção do Governo George Bush, nos Estados Unidos, a pretexto de combate ao terrorismo.

Segundo Habermas, de forma geral a Política e o Direito, nas suas teorias mais difundidas nos tempos actuais, demarcam duas situações, de um lado a afirmação de princípios normativistas em muitos casos distantes e contrários à realidade social, de outro, fundamentos exclusivamente objectivistas sem pertinência com as normas. A preocupação de Habermas é com a reconstrução do Direito, com a integração efectiva de todos os cidadãos nos processos e procedimentos da democracia participativa, nos marcos do Estado de direito democrático e pela via da acção comunicativa.

Ele refere-se às situações do direito positivo que pode afirmar a força do direito, da lei, através de procedimentos jurídicos considerados válidos. Só pode ser socialmente válido o que conseguir se impor na esfera social, ou seja, o que for aceito como norma jurídica. E para que haja um Estado democrático de direito com uma democracia radical sustentada em ampla participação, mediante o consenso. Só o consenso, através da conscientização dos direitos de cidadania, é poderá levar às liberdades, à autonomia política, à democracia efectiva.

Aliás a metodologia dos consensos tem sido a estratégia de tomada de decisões em fóruns e organismos sociais e foi incorporada pelo Governo Lula como prática obrigatória nos fóruns e debates com relação aos projectos e programas do governo.

Voltando ao processo constituinte angolano ora terminado, o intelectual ficou mais confuso que o analfabeto jurídico, porque a lei aprovada não teve consenso lá onde de facto havia necessidade de consensos, para além de terem sido violados, ou mesmo torpedeados os limites materiais para a aprovação da própria constituição. Quem diria que a violação partiria primeiro dos garantes, Presidente da República e tribunal constitucional? Claro não foi surpresa, porque os indicadores deste procedimento são anteriores à realização das eleições legislativas de 2008, e prosseguem na senda de violações com a constituição de um novo governo, sem realizar novas eleições.

A separação de poderes ficou só mesmo no papel e nas doutrinas aprendidas com cábulas mal feitas pelos desconceituados constitucionalistas angolanos, que encheram o chefe do poder executivo de prerrogativas que ferem as balizas do estado democrático de direito, pois, o presidente deputado vai nomear o governo e os juízes de todo o poder judicial.
O nosso estado democrático está a seguir assim um rumo jamais visto na história da humanidade, que o leva a breve trecho a uma monarquia total.

A estabilidade propalada vai acabar quando a eleição não tiver o resultado previsto no modelo constante da nova lei magna. Aliás, não colhe o argumento do bloqueio institucional, caso o presidente seja dum partido diferente do que governa. Vide exemplos de Portugal, com Cavaco Silva e José Sócrates de partidos diferentes, um como presidente e outro como chefe do governo, e muitos outros países, onde não só a convivência institucional é sadia, como a estabilidade nunca esteve em causa.

O que assistimos é sim uma imposição dos interesses de um grupo que se quer perpetuar no poder, em detrimento da doutrina jurídico-constitucional e dos pressupostos de um estado democrático e de direito, tornando Angola numa sociedade anónima para a delapidação dos seus recursos. Prova disto está na nomeação do governo que não tem nada de novo, com o cúmulo de alguns dos seus dignitários a se orgulharem pelo facto de terem pertencido as instituições das 3 repúblicas, os mesmos incompetentes e corruptos mudando apenas de funções, como se no país houvesse carência de quadros, ou então para nada tem servido a formação de milhares de angolanos bem diplomados e cheios de vontade para servirem e não se servirem, a quem faltam apenas oportunidades.

Com coragem e persistência na luta pelos direitos dos angolanos, os intelectuais e patriotas honestos devem unir esforços para por fim a ditadura e a monarquia que nos foi imposta.

FIM

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CALOU-SE A VOZ D’OURO


CALOU-SE A VOZ D’OURO

A voz de Zé Ernesto
De longe ou de perto
Era voz d’ouro para quem a ouvisse
A conversar ou quando lesse
Na rádio, ou no dia-a-dia
Era um encanto que se ouvia
Duma voz de Ouro
Que já deu no duro
Nas lides do jornalismo angolano
Crescente no continente africano

De correspondente da VORGAN no Lubango
Para os estúdios Centrais no Kuando Kubango
Era uma voz sempre inconfundível
Clara, sonante e bem audível
Na senda da geração de ouro
De outros também com vozes d’ouro

Manuel Vieira na Ecclésia, Kieza Silvestre na LAC e TPA
Estanislau Garcia na RNA e Mara Dalva na RNA e TPA
Paulo Duda na LAC e Zimbo, Alexandre Cose na TPA
São da geração de ouro da qual Zé Ernesto pertenceu
Porque o seu talento a todos convenceu


Na Rádio Despertar ficou sua marca
Sempre pronto e disponível, a dizer que sem maca
Fez assim com a sua voz d’ouro
Ouvir a as vozes dos milhões de angolanos sem Voz
Na sua luta pela liberdade premente
Liberdade exige mártires para durar
Por isso fica na galeria dos que lutaram sem cessar
Para um dia ver Angola prosperar
Na unidade de todos os seus filhos


Luanda, 11 de Fevereiro de 2010
Por - Emanuel Bianco

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Quitutes da Terra


Para uma saúde equilibrada a alimentação é sem dúvida o remédio. Daí os especialistas em nutrição recomendarem uma alimentação equilibrada e rica em vitaminas, proteínas e minerais.
A nossa terra é rica em produtos agrícolas e de pecuária que respondem a uma dieta alimentar saudável. Eu adoro as verduras, o peixe, o feijão e o bom funje ou pirão como queiram. É a base da minha alimentação, como este prato que dominou a minha dieta durante os cinco dias passados no Kuito-Bié, em casa de meus avós.
Adorei e a minha objectiva gravou esta imagem do meu prato de funge com feijão, folhas de aboboreira(lombi), batata doce e cisangua, para vos desejar também bom apetite.